Ora, pronomes!

A língua portuguesa parece um terreno irregular, que lhe obriga a andar prestando atenção onde pisa que é pra não “pisar” de fato. Verdade… quando falamos ou escrevemos sem prestar atenção aos detalhes escondidos da gramática, corremos o risco de cair feio nesse terreno repleto de armadilhas.

Uma armadilha em que, volta e meia, todos caem é o pronome demonstrativo! Usam “este” quando deveria ser “esse” e vice-versa.

A primeira coisa a se colocar na cabeça e não esquecer mais é que “este” e “esse” são bem parecidos, mas não são iguais! São uma espécie de “Ruth e Raquel” de Mulheres de Areia. Eram bem diferentes uma da outra, mas bem parecidas!

Entender esses pronomes não é um bicho de sete cabeças! Bem, talvez umas 5… vá lá! Mas com um pouquinho de esforço você chega lá e não vai errar mais”! Vamos lá…

O uso de um ou de outro tem que ver com três elementos importantes: o tempo, o espaço e o contexto (ocorrências dentro do texto).

Quando se trata de TEMPO, o ESSE diz respeito a um assunto que já passou e o ESTE a um assunto que ainda vai acontecer. Exemplo? Se você assiste a Globo (ninguém é perfeito!) deve reparar que o locutor sempre diz algo assim: “Este domingo é dia de Globo Rural”. Você já sacou que é o Globo Rural que ainda vai acontecer no próximo domingo, certo? Por isso, ESTE!

Às vezes o William Bonner (quando não está falando dos 345 milhões de morte no país pelo Covid 19) diz algo assim: “O JN, ESSA 2ª. feira que passou, errou ao falar de 345 milhões de mortes. Na verdade, foram apenas 340 milhões!”. Sacou? Foi na 2ª. feira que passou… portanto, ESSA!

Resuminho do quesito TEMPO: “ESTA semana” é a que você está ou que vai acontecer e “ESSA semana” é a que já passou, ok?

Agora, quando se trata de ESPAÇO é o seguinte: o ESSE diz respeito a coisas que NÃO estão com você ou junto de você. Já o ESTE é para coisas que ESTÃO com você ou junto de você. Exemplos: imagine que você esteja numa mesa de bar com alguém tomando uns birinaites.

Na mesa ao lado está um fulano mal-encarado e você cochicha pra pessoa que está com você: “ESSE cara na mesa ao lado é um canalha!” (ele está distante de você, ainda bem!).

Agora, se num rompante de insanidade, você se levanta, chega junto ao sujeito, coloca a mão no ombro dele e diz: ESTE cara é um canalha! (ele está do seu ladinho e você com a mão no ombro dele!) então você acertou com o pronome e errou de sujeito. Estou até vendo a pessoa que estava com você ligando para o SAMU, por causa das “bolachadas” que você tomou na ideia!

Resuminho do quesito ESPAÇO: ESTE, para coisas que estão com você ou junto de você; e ESSE, para coisas que estão distantes (não muito) de você. Agora, quando a coisa ou alguém está muuuitooo distante, então você usa o AQUELE.

Essas dificuldades também acontecem no meio de textos. Veja: ESTE mostra uma referência posterior (depois). Assim: “Aurélio, em sua crônica, escreveu ESTA palavra: birinaite. Note que a referência (birinaite) está DEPOIS do pronome. Mas se eu disser assim: “Birinaite… o Aurélio escreveu ESSA palavra em sua crônica!”. Sacou? Agora a referência (birinaite) está ANTES do pronome. Entendeu a diferença do “antes” e o “depois”?

Resuminho: ESTE é para referências que você ainda vai falar a respeito; e ESSE é para referências as quais você já falou delas. No parágrafo anterior eu começo assim: “Essas dificuldades também acontecem… etc”. Eu usei o ESSAS porque eu já havia falado sobre as dificuldades com esses (não estes) pronomes.

Todo esse lero-lero sobre pronomes me lembrou uma história acontecida com um presidente. Calma direita e esquerda, por favor, não vou falar de Bolsonaro, nem de Lula nem de Dilma. Mas reza a lenda, que o presidente militar Costa e Silva tinha um secretário que, do ponto de vista gramatical, tinha uns parafusos espanados. Ao anotar a data da reunião do presidente na agenda, perguntou:

– Sr. Presidente… devo marcar sua reunião para essa sexta-feira?

Aurélio de Oliveira

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