Cuidador de idosos

Tá certo, conforme-se, é uma circunstância da vida: um dia, seus pais vão estar bem velhinhos e, a menos que você queira submetê-los à impessoalidade muito bem paga de um asilo, terá de arcar com algumas obrigações em relação a eles.

Os muito idosos, como você sabe, têm uma série de restrições: de cardápio, de mobilidade, de horas de sono, de continência fecal e urinária, de memória, de humor, de audição, de acuidade visual, de dentição, de higiene… Têm horário para tudo, especialmente para a administração de seus incontáveis remédios, que mantêm sua combalida saúde menos combalida do que a caquexia faz supor.

E você tem de administrar tudo isso com extremada paciência: não o apresse, não lhe dê comidas gordurosas ou salgadas, leve-o ao banheiro com frequência inusual – ou, melhor até, compre fraldas geriátricas – não se irrite com sua surdez, controle as horas diante da tevê, oriente-o mais de uma vez sobre as partes que devem ser lavadas durante o banho… E, principalmente, não se esqueça de seus remédios!

Tenha muita paciência, porque cuidar de idosos não é fácil!

Principalmente se o idoso for um cachorro!

Imagine um mastodonte com quase quarenta e cinco quilos – setenta por cento do meu peso! – sérias restrições de locomoção, a fome de um mastodonte, dores e coceiras que o fazem gemer o dia inteiro, o humor instável de um idoso e ganindo a toda hora para que você o leve de um lado para o outro!

Lancelot, o mastodonte, faz doze anos em 16 de abril. Doze anos, segundo especialistas, é a idade limite para cães de porte grande, como o labrador. E, também como o labrador, ele tem sérios problemas de sustentação (desgaste nas articulações coxofemorais), a despeito do suplemento à base de condroitina e glicosamina que lhe faz companhia há séculos.

Por isso, tem cada vez mais dificuldade em levantar o corpanzil do chão quando está deitado, especialmente em chão em que não consegue fixar as patas. Então, ele pede socorro com um latido choroso e a você só resta escorregá-lo pelo piso até o mais próximo de sua cama, onde – se possível com o incentivo de um biscoitinho canino – ele consegue erguer-se com sacrifício e deitar-se no colchão… de onde vai sair quinze ou vinte minutos depois, para deitar-se outra vez no chão!

A coceira, fruto de uma alergia atópica incurável, está piorando. Então você tem de ficar de sobreaviso para evitar que ele se rasgue de tanto se coçar. Uma forma de diminuir a coceira era ministrar-lhe comprimidos diários de um corticoide antialérgico, mas nem isso funciona mais – só faz aumentar-lhe o apetite, aliás. No caso, então, tanto para a coceira quanto para o problema de locomoção, só resta a você administrar e ir levando. Se não tem remédio, remediado está.

Com os idosos, acontece a mesma coisa: velhice não tem cura, então só resta administrar e ir levando. Mas administrar direitinho, com carinho e paciência, porque não tem emenda constitucional que revogue a lei do retorno… e um dia você também vai estar velhinho!

Marco Antonio Zanfra

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