Festa na natureza

Morar na única capital do País, com menos de 300 mil habitantes, tem muitas vantagens. Uma delas é conviver diariamente com as maravilhas da natureza, num momento tão triste, em que temos um genocida na Presidência e ecocidas, no Ministério do Meio Ambiente e no Congresso, além de homicidas fardados, agindo nas ruas, impunemente. 

Não pretendia falar de política; só da natureza. Não resisti e peço desculpas a todos.

Voltemos à cidade onde moro… Escolhi Palmas, há quase 15 anos, porque, aqui, ainda havia muitos espaços vazios e sol o ano todo, como disse minha mãe. “Tem até praia”, falou dona Vicência. “É tudo o que pedi a Deus!”, reagi. Sem contar que o Tocantins oferecia muitas oportunidades de emprego para quem tinha experiência, coisa que, na área jornalística, já não se encontrava, facilmente, em São Paulo, para pessoas da minha tenra idade.  

Cheguei no fim da noite de uma segunda-feira. No dia seguinte, ao ver o céu azul e o monte de árvores, decidi nunca mais sair daqui. 

Fui trabalhar no único jornal impresso, diário, do Tocantins (hoje, só um site, com meia dúzia de jornalistas) e numa assessoria. Ter dois empregos era essencial, para dar uma vida digna ao meu filho mais novo, então com 14 anos. ​Um dia, ao voltar de uma cobertura jornalística, tive meu primeiro contato com as maravilhas de Palmas: uma raposa, atravessou, correndo, a principal avenida de Palmas. Soube, então, que havia muitas delas pela cidade, inclusive nos jardins do Palácio Araguaia.

No Parque Cesamar e em outros, famílias inteiras de capivaras e iguanas. Às vezes, aparecem até jacarés (daqueles que ainda não tomaram a vacina contra a Covid) nas praias. 

Tucanos e araras são comuns, em todos os lugares da cidade. Mas eles só passaram a “frequentar” a minha casa, depois que as muitas árvores que plantei começaram a dar frutos.

Moro no Centro, bem perto do Palácio. Na quadra, muitas araras fazem os ninhos nos coqueiros. Há uns três anos, uma delas até virou frequentadora da Panificadora da esquina. Comia na nossa mão e até bebia coca, no copo dos clientes. Cerveja, não! Impedíamos, a todo custo, que se tornasse alcoólatra! Demos a ela o nome de Nara, mesmo sem saber se era macho ou fêmea. 

Meses depois, ela passou a aparecer só de vez em quando, para dar um “oi”, até que sumiu. Sumiu? Acho que não… Arrumou um companheiro (a) e continua por perto. Aparece de vez em quando.

Sempre ouço o “cantar” estridente, de manhã e no fim da tarde. No meu quintal, este mês, passei a ser acordada, diariamente, por dois casais, bem barulhentos. O atrativo? Um baruzeiro, cheio de frutas! 

Eles me fazem companhia, durante um bom tempo, todos os dias. Em meio à pandemia, uma companhia maravilhosa!!! Mas, ao contrário da Nara, nem me deixam chegar perto! Ainda assim, acho que a Nara é um deles. Tomara que seja! Só assim, teria certeza de que ela está bem, feliz e acompanhada… ao contrário da grande maioria dos brasileiros.  

Ok, ok. Vou explicar o que é um baruzeiro. Trata-se de uma “leguminosa arbórea” (????), segundo os biólogos. Nativa do Planalto Central, está ameaçada de extinção, por causa do desmatamento. Atinge uns 25 metros de altura – e, sim, tenho uma no quintal, plantada por mim, há uns 12 anos, e que já foi motivo de briga com o dono da casa ao lado, porque os galhos “invadem” o terreno dele. Dizem que o fruto tem a casca fina e, dentro, há uma castanha, com gosto de amêndoa e cheia de proteínas. Casca fina, uma ova! Não consigo quebrar nem com martelo! Já as araras, se deliciam com a casca.

Célia Bretas Tahan

2 comentários

  1. Como já disse, a castanha do baru é uma delícia, além da farinha com que se faz tortas e bolos deliciosos. Experimentei no Quilombo Kalunga, na Chapada dos Veadeiros.

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